Para se falar nas divisões no universo muçulmano é preciso inicialmente fazer um esclarecimento: A religião do Islã não é estruturada em forma de instituições (como no caso do cristianismo, em forma de Igrejas). A adesão ao Islã é em princípio um ato individual e não a adesão uma instituição. Para alguém se tornar muçulmano, basta que pronuncie de forma consciente, com entendimento e intensão – ao menos uma vez na vida – a profissão de fé: “Somente Deus é Deus e Mohammed é seu profeta” (expressão que pode ser traduzida também de outras maneiras). Além disso, a autoridade máxima a ser seguida para todos os muçulmanos é o Sagrado Alcorão e não uma instituição. Ao que consta no Sagrado Alcorão se deve seguir. As divisões surgidas dentro do Islã não são de ordem de estrutura institucional, mas mais de compreensão sobre a religião. E há basicamente dois tipos de divisão: A mais antiga e conhecida delas, que poderia ser chamada de diferentes correntes do Islã, surgiu a partir da compreensão diversificada sobre o governo da comunidade, ou – na linguagem muçulmana – sobre o califado. Quando da morte do profeta Mohamed, no ano 632, houve entre os fieis quem entendesse que o califa (o representante) deveria ser escolhido entre os companheiros do profeta, outros entenderam que a escolha deveria recair sobre alguém da descendência (parentela) do profeta. Desta diferença de compreensão sobre a sucessão de Mohamed (não como profeta, mas como representante ou governante da comunidade) irá surgir a divisão em duas grandes correntes muçulmanas: os sunitas e os xiitas. Outro tipo de divisão dentro do Islã diz respeito às escolas de interpretação ou de jurisprudência religiosa. Já no início do Islã surgiram métodos diferentes de interpretação do Alcorão. Estes diferentes métodos são chamados de escolas. Existem quatro escolas mais famosas, cada qual iniciada por algum mestre antigo. São elas, por ordem de antiguidade, a escola dos seguidores de Abu Hanifa (Hanafitas), de Malik ibn Anas (Malikitas), de Mohammed ibn-Schafi’i (Schafiitas) e de Ahmed ibn Hanbal (Hanbalitas). As diferenças entre as diversas escolas não está tanto no conteúdo, mas sim no método de encontrar a interpretação da lei. Estas escolas podem ser também consideradas – para usar um jargão – mais liberais ou mais rigoristas na interpretação da lei. Além disso elas influenciam determinadas regiões islâmicas, de modo que são um elementos importante na compreensão das diferenças culturais entre os diversos islãs.
Volney J. Berkenbrock, O mundo religioso (Editora Vozes).